Por Fabrício Brandão

Por Fabrício Brandão

domingo, 24 de janeiro de 2010

Saber aprender (*)

Pedro Demo, na primeira parte do seu livro “Saber Pensar”, mais precisamente no capítulo quatro, faz algumas observações sobre o que é aprender.

"é a maior prova da maleabilidade do ser humano, porque, mais que se adaptar à realidade, passa a intervir nela."(p. 47)

"é antes de tudo rechaçar a reprodução. Neste sentido é fenômeno reconstrutivo e político." (p. 47)

"é, em seu centro, saber fazer-se sujeito de história própria, individual e coletiva." (p.51)

Segundo ele, “(...) aprendemos do que já tínhamos aprendido, conhecemos a partir do que já sabíamos.” (p. 48)

Partindo de sua concepção, pode-se concluir que aprender é algo fundamental para que o homem se aproprie do conhecimento para que possa atuar conscientemente frente à realidade com o objetivo de transformá-la. Assim, ao aprender, ao apropriar-se dos conhecimentos produzidos por si mesmo, o indivíduo se torna sujeito de sua história, tanto individual quanto coletiva.

É fundamental estar claro que nenhuma pessoa pode realmente tornar-se crítica se não conhece, se não tem instrumentos para apropriar-se do conhecimento. A apropriação do conhecimento é uma via para o desenvolvimento da criticidade e, consequentemente, para o reconhecimento da realidade. Pedro Demo deixa transparecer exatamente isso ao longo de seu texto. Ele outorga à aprendizagem um sentido político, reconstrutivo e como algo capaz de instrumentalizar a autonomia do sujeito. Ele assinala:

a) Sobre seu caráter político:

"a aprendizagem é um fenômeno político, porque é inseparável da condição do sujeito interpretativo e interveniente, se tornando a base da autonomia." (p. 50)

b) Sobre seu caráter reconstrutivo:

"a aprendizagem é um fenômeno reconstrutivo; jamais pode ser reduzida à reprodução do conhecimento, mesmo que compareçam sempre e naturalmente componentes imitativos." (p. 50)

c) Sobre a instrumentalização da autonomia:

"(...) todos os artifícios didáticos, principalmente a aula, não podem ser mais que expedientes supletivos, que teriam como única razão reforçar a autonomia do aluno. Neste sentido, se pode fazer uma ligação direta entre saber pensar e saber aprender, porque revela o sentido da conquista da autonomia, dentro de um processo permanente de inovação crítica e criativa." (p. 51)

O parecer de Pedro Demo é pertinente e objetivo. E, mais ainda, deixa evidente que o ato de aprender é um ato político, pois o trata como uma necessidade essencial para que o indivíduo se conscientize de sua condição social e da necessidade de lutar coletivamente para mudá-la. Ele tem que alcançar sua liberdade que, “não pode ser imposta, mas negociada em sociedade. Saber aprender indica esta habilidade de rara maleabilidade, que ora precisa ser intransigente para marcar presença, ora transigente para conviver." (p. 53)

(*)Adaptado por: BRANDÃO, Fabrício Nereu.

Referência Bibliográfica

DEMO, Pedro. Saber Pensar. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2000.

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