Por Fabrício Brandão

Por Fabrício Brandão

sábado, 16 de janeiro de 2010

O currículo como um projeto educativo: seu caráter aberto e flexível

1- Por que compreender o currículo como um projeto educativo?

Um projeto pode ser compreendido como um plano de ação sistêmico e flexível elaborado para obter-se determinados fins que gerarão mudanças educativas empregando recursos materiais e humanos, como deve ser o currículo.
Sendo a escola uma instituição que prepara os jovens para o desenvolvimento de atividades na sociedade, pretende-se manter estreitas relações entre as atividades escolares e as demandas externas sociais. A necessidade do aluno tanto do ponto de vista do seu desenvolvimento como sua relação com a sociedade passam a ser pontos de referência na configuração de projetos educativos. A atenção aos processos educativos e não somente aos conteúdos é um novo princípio que apóia a concepção do currículo como algo que valoriza a experiência do aluno nas instituições escolares.
A escola é um espaço de decisão que deve estabelecer medidas mais concretas para o desenvolvimento de um projeto educativo que está preocupado com a melhoria constante da qualidade de ensino por meio do aperfeiçoamento dos professores.
Os meios para esse desenvolvimento vão desde a disponibilidade de uma biblioteca, a realização de seminários sobre temas concretos, a facilitação de conhecimentos diretos e indiretos de experiências educativas inovadoras com suas análises e discussões, que proporcionarão a dinamização entre investigação e ação.

2- Quais devem ser as preocupações sociais, pedagógicas e curriculares a serem incorporadas pela escola?

. Estreitar relações entre as atividades escolares e as demandas externas sociais.
. Tratar os conflitos sociais frente às distintas visões.
. Partir de um conceito amplo de cultura que exige a presença de educadores e o aproveitamento de diversos recursos comunitários.
. Ter um sentido democrático que implica a descentralização que sugere reverter o projeto educativo escolar para a comunidade a qual serve.
. Compensar as diferenças de origem dos alunos para enfrentar os conteúdos curriculares.
. Diversificar as exigências escolares para que as capacidades de todos tenham acolhida na escolaridade.
. Desenvolver valores de solidariedade por meio do conhecimento e das práticas pedagógicas.
. Suprimir a concorrência entre os alunos.
. Implementar um currículo comum para todos, superando as discriminações produzidas pela separação dentro do sistema escolar de especialidades curriculares diversificadas socialmente.
. Diagnosticar e trabalhar os problemas sociais relacionados com a juventude, que afetam diretamente as famílias e a sociedade, que exige atenção por parte da escola para preveni-los e criar uma consciência social frente aos mesmos. As escolas devem ser instâncias educativas para a comunidade e não locais para simples obtenção de diplomas ou creches infanto-juvenis.

3- Como deve ser um currículo aberto e flexível?

O currículo aberto se constrói e exige um tipo de intervenção ativa discutida em um processo aberto por parte dos atores participantes, dos quais está a cargo: professores, alunos, pais, forças sociais, grupos criadores intelectuais, para que não seja uma simples reprodução de decisões e modelações.
O currículo aberto deve contribuir para o interesse emancipatório e deve ter um núcleo comum para todos e uma parte complementar e diferenciadora.
O núcleo comum deve dar resposta às funções homogeneizadoras do currículo e a parte diversificada tratar das diferenças, tendo como objetivo dar espaço para os interesses distintos ou para suprir desiguais níveis de exigência acadêmica.
A escolaridade obrigatória pode permitir a oportunidade de desenvolvimento variado em objetivos e conteúdos comuns a todos, abordando as suas peculiaridades. O currículo comum será menos coercitivo e mais flexível se possibilitar a expressão das diferenças em métodos diversos e permitir aos alunos escolher atividades e conteúdos que serão desenvolvidos.
O currículo aberto e flexível deve ser uma prática sustentada por uma reflexão. Um plano construído através da interação entre o refletir e o atuar, dentro de um processo que compreende o planejamento, a ação e a avaliação. Deve proporcionar que os alunos se convertam em sujeitos ativos e participantes de seu próprio saber.

4- Por que ele deve ser assim?

. Porque o conteúdo a ser transmitido não poderá ser feito a todos os alunos de uma mesma forma, ele tem que ser ordenado de acordo com suas dificuldades e realidades.
. Porque a fonte do currículo é a cultura que emana de uma sociedade.
. Porque o currículo deve responder as necessidades sociais. “ Veja o que os homens fazem na vida real e saberemos o que deve ser o conteúdo de sua escolaridade”. (Sacristán, 1996, p. 155).
. Porque o currículo tem uma relatividade histórica. Ele representa um determinado momento histórico.
. Porque ele deve oferecer uma visão da realidade como processo de mudança, cujos atores são os seres humanos, os quais estão em condições de realizar sua transformação. De acordo com Sarup (1990), citado por Sacristán: “A função do currículo não é refletir uma realidade rígida, mas pensar sobre a realidade social, é demonstrar que o conhecimento e os fatos sociais são produtos históricos e conseqüentemente, que poderiam ser diferentes (e que ainda podem sé-los)”. (Sacristán, 1996, p.157).
. Se o conhecimento muda com lentidão e às vezes radicalmente, os currículos não podem ser dogmas. Se o conhecimento constrói-se e se revisa, a educação, o currículo que o representa como indiscutível seria um contra-senso.” (Sacristán, 1996,p.158).
. Porque o tempo e o espaço não podem ser rígidos, tem que ser flexíveis e adaptáveis à realidade da escola e dos alunos.
. Para permitir a organização de projetos de trabalho que levem em conta as necessidades reais do aluno e de sua comunidade.
. Porque a relação ensino-aprendizagem é dinâmica e pressupõe mudanças e adaptações.

Referências Bibliográficas

. HERNÁNDEZ, Fernando. A organização do currículo por projetos de trabalho. Porto Alegre: ARTMED, 1998.
. SACRISTÁN, Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: ARTMED, 2000.
. SACRISTÁN, Gimeno; GÓMEZ, Pérez. Compreender e transformar o ensino. Porto Alegre: ARTMED, 1996.
. SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e interdisciplinaridade. Porto Alegre: ARTMED, 1998.

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