Por Fabrício Brandão

Por Fabrício Brandão

sábado, 5 de novembro de 2011

Os barulhos nossos de cada dia

Aconteceu-me, recentemente, fato engraçado. Não tendo dormido em casa, perdi uma noite inteira de sono ouvindo os ruídos da redondeza. Máquinas ligadas, alarmes que disparavam, veículos transitando, trabalhadores executando serviços noturnos, sons de toda ordem. Uma barulheira só impedindo-me de dormir, pelo menos com tranquilidade.

Daí que, sono perdido, metaforicamente conclui que todos nós convivemos com barulhos, os nossos, que já nos acostumamos com eles, e com outros que ficam à espreita. Sejam eles do ambiente ou de foro íntimo, fazem-se presentes em nossas vidas e vão caminhando conosco. O que não suportamos, num primeiro instante, é o surgimento de novos barulhos que acabam por tirar-nos da nossa zona de conforto. Quando isso ocorre, saímos do centro e perdemos o sono, literalmente. Até que nos acostumamos com o novo ou nos despimos dele, porque se assim não o for, corremos o risco de, na duração de uma existência, nos tornarmos eternos incomodados.

Acostumamos com os barulhos da vizinhança que invadem nossa casa, com os barulhos presentes em nosso local de trabalho e com mais de uma centena que chegam até nós cotidianamente. Mas outros estão por aí. É que às vezes não nos apercebemos ou os experimentamos com frequência. Mas existem e, quando chegam, causam estranheza. Aborrecem-nos a ponto de enraivecer, até que nos livramos deles. Ou, sendo pior, sofremos inertes dias a fio.

De igual forma manifestam-se os barulhos interiores. Há aqueles com os quais convivemos mais constantemente que se instalam lá na alma e por isso nos acostumamos. Fazem-nos, inclusive, bem. Às vezes manifestam-se na forma daquelas perguntinhas que nos ajudam a estabelecer-nos ante a realidade para organizar a rota. São nossos. Mas há outros que de vez em quando se achegam gerando desconforto. Sua intensidade depende da causa geradora e de sua importância, enquanto que sua duração de uma relação valorativa. Quando não resolvidos, a dor torna-se companheira inevitável. Esses são aqueles oriundos das nossas relações de convívio. Barulho interior é fruto daquilo que, interiorizado, faz com que aquela voz em forma de sensação se manifeste lá no fundo confundindo-se vez por outra com um grito. A partir dele assumimos inexoravelmente uma determinada conduta comportamental que vai da alegria à tristeza e da angústia ao contentamento. Barulho interior quando não resolvido gera adoecimento e, quando ao contrário, compreendido, crescimento.

Barulhos existem! Só resta-nos saber conviver com eles.

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