Por Fabrício Brandão

Por Fabrício Brandão

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Escola, lugar do ócio

Scholé, palavra grega que designa “lugar do ócio”. Palavra que deu origem àquela que, ao se traduzir, transformou-se em Escola. Relação necessária estabelece-se, então, entre escola e ócio. Não ao ócio como é concebido hoje: sinônimo de desocupação e do ato de não fazer nada. Pelo contrário. De acordo com os gregos o ócio é o tempo necessário para o desenvolvimento da reflexão e da capacidade de pensar. Para que o pensamento evolua por meio de elaborações mentais mister se faz o tempo livre que se transfigura em tempo produtivo. Tempo tão necessário para brotar a pergunta, o questionamento. Não há como dissociar o processo de construção do conhecimento da capacidade de se pronunciar a pergunta. Vivenciamos, desta forma, um paradoxo. O homem necessita do tempo como aliado, não como inimigo. Ele necessita de estar com o tempo na condição de sujeito e não sob ele na condição de objeto. Tudo ao contrário daquilo que se manifesta nestes dias ditos pós-modernos. O homem se submete ao tempo que o rouba dele mesmo vivenciando muito mais a sua falta do que sua condição de infinitude, mesmo considerando que a vida humana é finita.

Escola enquanto lugar do ócio, espaço e tempo. Eis a pauta da reflexão. A escola contemporânea organiza seu tempo ao redor de um espaço em função daquilo que historicamente se consolidou. Salas de aula, carteiras distribuídas, alunos enfileirados, professor ao centro, manuais didáticos, tempos de aula definidos e delimitados pelo som da sineta... Assim ela constitui-se. Na rigidez da estrutura não há tempo para se fazer uso do tempo fora daquele que previamente já se estabeleceu. Onde se encontra, na escola, o tempo destinado ao pensar livre? Naquele minuto em que o professor permite a pergunta? Nos intervalos entre uma aula e outra? Nose seus corredores e pátios? Às vezes, sim. Mas seria suficiente? O pensar assumiria, assim, o rigor da reflexão? Pode-se afirmar que não!

Desta maneira, considerando a realidade da maioria de nossas escolas tal como ela se manifesta hoje, não podemos caracterizá-las como o espaço do ócio, porque nelas o tempo cronometra-se e o direcionamento das atividades não permite que a hora livre se estabeleça. Se estabeleça para dar espaço à pergunta que, feita, possibilita o desenvolvimento cognitivo. Quando crianças, cotidianamente perguntamos. Nossa curiosidade aguçada se delineia nos “como”, “por quês”, “o quês”, tão comuns nesta fase de descobertas. Segue a vida e desta capacidade nos distanciamos. Sufocamos nossa curiosidade porque o valor concedido à pergunta é inverso e proporcionalmente inferior ao valor dado à resposta. Pergunta quem não sabe e não aquele que deseja saber, assim como responde aquele que, por ser dono do saber, credencia-se para tanto.

Aonde está a responsabilidade da escola neste contexto? Em que medida ela tem se tornado mais repressora do que estimuladora do ato de perguntar? A que distância está a escola atual daquela grega, a scholé? (Não em forma e conteúdo literalmente manifestos, mas no trato com o pensar).

Perguntas para serem respondidas. Porque só elas possibilitam a reflexão tão necessária para desencadear o processo de continuidade-ruptura que permitirá o nascimento do novo.

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