Por Fabrício Brandão

Por Fabrício Brandão

sábado, 3 de dezembro de 2011

Preciosa - Uma história de esperança

Preciosa é uma adolescente de 16 anos que vive no bairro do Harlem, em Nova Iorque. Convivendo com restrição econômica e com a privação de um relacionamento familiar saudável, não se encaminhava bem na escola. Também, seria pouco provável que se encaminhasse. Porque além das condições materiais de existência pouco favoráveis, era violentada pelo pai, de quem esperava o segundo filho, e maltratada pela mãe. O filme relata a verdade nua e crua de uma adolescência roubada e o papel da escola nesse mar de opressão. Fato que levou-me a ponderar sobre o seu enredo.

É evidente que o contexto da vida é muito mais amplo do que a escola. Mas também é evidente que ela insere-se nele de algum modo. Assim, no filme em questão delineiam-se o papel pedagógico de duas escolas frente às vivências de seus alunos e alunas.

Na primeira, "escola regular", a inflexibilidade diante dos problemas dos alunos evidencia-se. O que é facilmente percebido na postura adotada frente à notícia da segunda gravidez de Preciosa: suspensão das aulas e encaminhamento para uma escola alternativa, haja vista que ela, além de não aprender, vivia dispersa em seu mundo. Nesta, o ambiente heterogêneo e rico em experiências que é um potencial desencadeador de aprendizagens não é levado em conta.

Na segunda, “escola alternativa”, ao contrário, numa turma só de meninas, a homogeneidade prevalecia. Em comum, adolescências roubadas e a manifestação da não-aprendizagem. De "alternativo", só mesmo o papel da professora que potencializava a aprendizagem ao considerar as vivências de suas alunas. Ela fazia-se valer de um princípio básico, o de que a escola enquanto instituição socialmente constituída insere-se no contexto social mais amplo e é parte dos problemas que a ela se apresentam porque integra o todo que compõe efetivamente a realidade.

De sua análise, à luz de uma pedagogia comprometida com as questões sociais e também com o direito ao aprender que é de todos e cada um, fica que o olhar é peça fundamental no ato de educar. Olhar enquanto capacidade de se voltar os olhos para aqueles que são efetivamente sujeitos históricos e de aprendizagens. É ela, tal capacidade, que estabelece a possibilidade de se reconhecer os alunos e alunas como portadores de uma individualidade sociocultural que, para além de serem capazes de aprender, também existem e que, por existirem, sentem, sofrem, amam. Vivem experiências que por vezes não são nossas, mas precisam ser identificadas para que suas existências possam ser ressignificadas e tornadas mais dignas. Não creio, em nenhuma medida, que seja necessário a constituição de uma "escola especial" para isso. Porque nesse quesito, todas as escolas precisam ser especiais.

Filme denso e rico em conjecturas.




PRECIOSA, Uma história de esperança. Direção: Lee Daniels. Produção: Lee Daniels, Gary Magness, Sara Siegel-Magness. [S.l.]: Lionsgate; PlayArte, 2009. 1 DVD.

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