Por Fabrício Brandão

Por Fabrício Brandão

sábado, 10 de julho de 2010

A revoada das maritacas

Às voltas com o trabalho, num relance de tempo, parei tudo porque um ruído estranho me incomodara. Não era som de automóvel, de motocicleta, de buzina ou de pedestres a caminhar. Nada disso. Reclamei, porque interrompera o que fazia. O barulho atordoou-me. Não era nenhum som comum ao dia a dia a que me acostumara e que, por estar acostumado, mantinha meus afazeres sem interrupções. Aquele não. Era diferente e interrompeu-me. Fez-me levantar, olhar pela janela e procurar a razão que lhe causara. Que ousadia! Provocar a perda de um tempo tão precioso para aquele que trabalhava. Afinal, não é o trabalho que permite ao homem constituir-se como tal? Não é ele que, desvirtuado, possibilita a produção da riqueza? Digo desvirtuado porque, essencialmente, o trabalho deveria possibilitar a subsistência humana e ponto. Naquele instante, todavia, não desejava encaminhar-me para uma reflexão filosófica. O que desejava era reconhecer o motivo que me fazia deixar de trabalhar.

Olhei para baixo em direção à rua. Nada vi à exceção do movimento corriqueiro que caracteriza uma cidade. De onde viria então, o ruído? Da imaginação? Atenciosamente continuei minha rápida procura. Eis que arteiramente um bando de maritacas saiu da copa de uma árvore em revoada. Encontrara o motivo do incômodo: maritacas! Aves que vivem em bandos na mata alta. Na mata alta não estavam porque o homem a ocupara. Encontravam-se sobre os galhos de uma árvore plantada no centro de uma praça chamando a atenção daqueles que, como eu, mais acostumados estavam com os ruídos urbanos e menos com os naturais. Que contradição! O homem, ser social, em pleno habitat idealizado por ele mesmo convidado é a retornar àquele outro natural.

Constatei, tão simplesmente, que maritacas em revoada existem não para incomodar, mas para naturalizar aquilo que de social há no homem. Para fazer com que ele se torne mais humano, pois, às vezes, o cotidiano embrutece.

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