Por Fabrício Brandão

Por Fabrício Brandão

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A aprendizagem e sua relação com o conhecimento

A escola é uma instituição onde deve-se privilegiar a formação do indivíduo. Sua formação cognitiva e psicossocial. Não pode ser negado este amplo papel a ela, mesmo acreditando que o ser se forma continuamente ao longo da vida e em todas as circunstâncias. É a escola que possui condições para planejar, dirigir, sistematizar esta formação, tendo fins e objetivos definidos. Via de regra, para que ela seja atingida, é imprescindível o acesso ao conhecimento. A escola precisa possibilitar que as novas gerações tenham condições de se apropriar do saber que foi produzido socialmente. Não para repeti-lo mecanicamente, mas para compreendê-lo e torná-lo útil. Afinal, conhecer significa compreender o objeto de estudo nas suas múltiplas relações, considerando que o conhecimento vem justificar como a realidade se organiza dentro de um contexto dado, que é histórico.

A compreensão de tal fato torna-se essencial para que seja justificada a necessidade de se moldar, no interior da escola, um ambiente onde a apropriação do conhecimento pelo indivíduo seja, não só favorecida, como estimulada. Isto porque esta apropriação é fundamental para que a realidade a que ele está submetido seja compreendida e, posteriormente, transformada. Apropriar-se do conhecimento não significa memorizá-lo pura e simplesmente. Mas sim, torná-lo seu; com significações que são suas e que vem justificar necessidades que são inerentes ao ser. É preciso que sejam criadas condições para que o conhecimento seja realmente apropriado pelo educando em uma situação que o leve a produzi-lo em interação com seus iguais, sendo que isso só ocorrerá quando forem satisfeitas, a princípio, duas condições:

1. O conteúdo a ser objeto de estudo precisa ser significativo: Ele precisa estar vinculado a um outro conhecimento prévio que servirá de base para que ele se ancore. Se em sua estrutura cognitiva o educando não possuir nada que o remeta ao novo conhecimento que lhe está sendo apresentado, será muito difícil que ele permaneça nela. Isso porque a aprendizagem só acontece quando um conhecimento novo encontra dentro da estrutura cognitiva uma base que leve à sua compreensão. Aqui temos um princípio fundamental da “Aprendizagem Significativa”, de David Ausubel;
2. O conteúdo a ser objeto de estudo precisa satisfazer alguma necessidade do educando: Se o objeto de estudo não satisfizer nenhuma necessidade posta pela realidade social do educando, será muito difícil dele se interessar por ele. O objeto de estudo precisa, necessariamente, ir de encontro às necessidades reais de vida dos indivíduos, ele precisa sugestionar a possibilidade de compreensão da realidade para posterior ação. A reflexão sobre o real só será desencadeada a partir do momento que for de interesse do indivíduo, a partir do momento que brotar a necessidade por parte dele de debruçar-se sobre a realidade com o intuito de desvendá-la à procura das soluções dos seus problemas.

Pode-se dizer, então, que aprender é conhecer e que só se aprende quando a realidade é conhecida e apreendida pelo educando em suas múltiplas relações. É a relação direta com o real vinculado a um todo dinâmico que permitirá a produção do conhecimento e o desenvolvimento da aprendizagem. Será a partir desta relação que a realidade será ressignificada pelo sujeito, isto é, será compreendida por ele com suas especificidades fruto da sua ação. Delineia-se aqui o grande desafio da escola: possibilitar o contato efetivo entre o sujeito e a realidade como via possível para se garantir a aprendizagem. Outra alternativa poderá gerar não mais do que uma apropriação mecânica, memorística e superficial daqueles conteúdos que estão listados em um programa curricular.

Assim, para ter ampliada a sua capacidade de compreensão e análise acerca do movimento que envolve o real, o educando necessita ter a sua atenção voltada para o ato de conhecer/aprender. Precisa estar disposto a confrontar-se com os objetos que compõem a realidade e com as múltiplas relações históricas, econômicas, políticas e sociais que possam estar materializadas em sua configuração, sendo função da escola a adoção de atitudes que irão favorecer o desenvolvimento desta disposição, tais como:

1. Contribuir para que aflore o desejo por conhecer/aprender. Aqui reside a necessidade de se deixar aflorar o querer. O ato de aprender está vinculado diretamente ao desejo, à vontade, à necessidade;
2. Partir daquilo que é significativo. Daquilo que pode ser assimilado pela estrutura cognitiva;
3. Possibilitar o confronto entre o sujeito e o objeto. O conhecimento se dá através da ação;
4. Causar desequilíbrios cognitivos que promovam saltos qualitativos na aprendizagem. Este desequilíbrio poderá ser atingido pela contradição estabelecida entre a imagem que o indivíduo faz do objeto e sua real configuração. Tal feito poderá ser atingido através de atividades problematizadoras;
5. Relacionar aquilo que está sendo objeto de estudo à prática social. O conhecimento não pode estar desvinculado da realidade social vigente;
6. Oferecer atividades diversificadas e atrativas que possam auxiliar no ato de se conhecer o objeto de estudo;
7. Estimular o confronto de idéias. Criar um ambiente onde seja favorecida a participação coletiva no ato de se produzir o conhecimento. Afinal, o desenvolvimento da linguagem/comunicação é fundamental para a organização do pensamento.

Por fim, é necessário se ter consciência de que o ato de conhecer/aprender não envolve só disposição, mas também uma verdadeira mobilização por parte dos educadores e educandos. A viabilização das atitudes que poderão favorecer tal ato é uma condição necessária para que a escola consiga cumprir com a sua função social de garantir a todos o direito à aprendizagem. Todavia, os educadores necessitam ter a convicção de como os educandos aprendem, para que, a partir daí, possam traçar suas estratégias de ensino. A resposta ao como ensinar nasce da noção exata de como os alunos aprendem.

Referências Bibliográficas

ANTUNES, Celso. Vygotysky, Quem Diria?! Em minha Sala de Aula. Petrópolis: Ed. Vozes, 2002.
ARANHA. Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: Introdução à Filosofia. 2. ed. São Paulo: Editora Moderna, 1995.
ASSMAN, Hugo. Reencantar a Educação: Rumo à Sociedade Aprendente. Petrópolis: Ed. Vozes, 1998.
DEMO, Pedro. Saber Pensar. São Paulo: Cortez. Instituto Paulo Freire, 2000.
GADOTTI, Moacir. Concepção Dialética da Educação: Um Estudo Introdutório. 14. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
MOREIRA, Marco Antônio e MASINI, Elcie, F. Salzano. Aprendizagem Significativa: A Teoria de David Ausubel. São Paulo: Editora Moraes, 1982.
SALVADOR. César Coll. Aprendizagem Escolar e Construção do Conhecimento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
VASCONCELLOS. Celso dos Santos. Construção do Conhecimento em Sala de Aula. São Paulo: Libertad, 2000.

Um comentário:

  1. Ter a noção de como ocorre o processo cognitivo do educando é a partida para que o professor entenda que a culpa do fracasso escolar e da não consolidação da aprendizagem não é culpa do aluno.As nossas escolas ainda são da mesma maneira da escola que frequentavam nossos avós. Devemos ter um olhar novo para que possamos transformar as nossas escolas em um lugar interessante para as novas gerações.
    Por isso, mestre, concordo e acredito em tudo que disse !!!

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