Por Fabrício Brandão

Por Fabrício Brandão

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Os limites da violência

Triste é ter que se deparar com cenas de violência que remetem ao terror, ao medo e ao verticalismo que determina a lei do mais forte pela via armada. Tal realidade não está tão distante como se pensara e não é coisa do Iraque, do Afeganistão ou de Israel. Faz parte do dia a dia aqui no Brasil, seja no Rio de Janeiro ou em outra grande cidade de nossas regiões metropolitanas. O que varia é a sua intensidade e a ousadia dos líderes dessas forças paralelas que enfrentam o Estado legitimamente instituído para cuidar das políticas públicas, inclusive daquelas que remetem à segurança. Tal fato não pode ser compreendido de forma isolada sem se refletir sobre a estrutura da sociedade contemporânea. Seus traços fundamentados no individualismo, que isola; na fugacidade, que torna tudo tão superficial; na supervalorização do Eu em detrimento do Outro; no embate de valores, que torna difícil o diálogo; no fosso social que distancia ricos e pobres; expõem as cicatrizes de um corpo que agoniza e necessita de cuidado. Cuidado tão necessário para torná-lo saudável e disposto ao convívio, senão tão harmonioso, pelo menos tolerável e comprometido com a vida.

Que os acontecimentos recentes sirvam para que o horror e o estarrecimento transformem-se no combustível tão necessário para que mudanças ocorram na conduta de cada um. Não é mais possível conviver com tanta injustiça, violência e mal querer. Ou o homem encontra a exata medida da convivência ou uns sempre desejarão sobrepujar os outros.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Uma chance para o destino

Escrevi aqui certa vez sobre o acaso e o destino. Considerei três condutas que podem se manifestar frente a essas “potências misteriosas”. Uma cética, outra dogmática e uma terceira crítica. Não expus verdades absolutas porque não as considero. Convivo com aquelas que sempre serão provisórias. Mas ainda assim, ratifico a linha de raciocínio desenvolvida naquele momento e que faz-se presente no texto “Acaso e Destino”.

Resolvi retomar a questão depois de ter presenciado um fato que acontecia para o qual aconselhei. Na íntegra o meu conselho:

- Dê uma chance para o destino!

Nada mais. O conselho fora esse. Curto, direto, mas cheio de significado. Afirmo isso porque dele redundou a grata surpresa de um encontro.

Após o aconselhamento e seu resultado, automaticamente pensei na força incompreendida do destino e na sua influência sobre o ser humano. Por mais que sejamos donos da nossa vida e idealizadores do nosso futuro, e creio plenamente que o somos, às vezes o inesperado acontece e concede ao instante outra cor. Seja por influência daquilo que prevíamos ou não. De resto, o que fica é que o destino sempre trabalhará proporcionando encontros e desencontros. A grande questão é que nós, por vezes, não acreditamos nos sinais que o cotidiano nos dá. Não consideramos a presença do imprevisível nas nossas relações, mesmo que este assuma uma força complementar. E, em assim sendo, não oportunizamos a materialização daquilo que está por vir. O certo seria que o oportunizássemos, porque se muito do que nos acontece é fruto da própria condução de nossa vida por nós mesmos, outra parte é mistério que a nós se impõem por parte daquilo que não conhecemos e, portanto, prevíamos.

O achado, então, é dar uma chance para o destino. Assim, o desconhecido somado àquilo que se conhece permitirá sermos aquilo que tão verdadeiramente desejamos.

sábado, 6 de novembro de 2010

Neruda

Um de meus poetas favoritos é o chileno Pablo Neruda. Atualmente estou lendo sua Antología General e, em meio aos escritos, deparei-me com um poema que posto aqui por sua singeleza e significância. Para quem gosta, boa leitura!


SONETO LXIX

Tal vez no ser es ser sin que tú seas,
sin que vayas cortando el mediodía
como una flor azul, sin que camines
más tarde por la niebla y los ladrillos,

sin esa luz que llevas en la mano
que tal vez otros no verán dorada,
que tal vez nadie supo que crecía
como el origen rojo de la rosa,

sin que seas, en fin, sin que vinieras
brusca, incitante, a conocer mi vida,
ráfaga de rosal, trigo del viento,

y desde entoces, soy porque tú eres,
y desde entonces eres, soy y somos,
y por amor seré, serás, seremos.